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ABRAHAM PALATNIK

par Aracy Amaral


(Natal,RN, Brasil, 1928. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, RJ)

A primeira Bienal Internacional do Museu de Arte Moderna de São Paulo ocorre em 1951, e´poca de grande efervescencia entre os jovens artistas brasileiros, entusiasmados com a abstração geométrica, e buscando outras alternativas criativas fóra da figuração convencional.

Dois anos antes, em 1949, em abril o MAM-SP se inaugurára sob a direção de Léon Dégand, com uma exposição intitulada "Do Figurativismo ao Abstracionismo", precedida, em 1948, por uma série de palestras de Dégand sobre a arte abstrata.

Waldemar Cordeiro, que seria o lider do movimento concreto em São Paulo, a partir de seu Manifesto Ruptura (1952) parte, como Luís Sacilotto, a partir de 1948, para incursões na área da abstração geométrica, seguindo sobretudo os caminhos de Mondrian. Contudo, depois de retrospectiva de Max Bill no Museu de Arte de São Paulo (1950), de grande repercussão, os jovens artistas se voltam para o exemplo do concretismo suiço, em particular, pela presença marcante da delegação suiça na Bienal de São Paulo.

Abraham Palatnik teria uma formação inusual para artistas do meio artistico brasileiro. Estudou em Tel-Aviv nas escolas Hertzlia e Montefiori, esta última especializada em motores de explosão. De 1943 a 1947 estudou pintura e historia da arte no ateliê de Aron Avni, estudando igualmente escultura (com Sternshus) e estética (com Shor).

De volta ao Rio de Janeiro em 1948 liga-se por laços de amizade e afinidade a dois outros jovens artistas inquietos, Almir Mavignier (que se encaminharia depois para a Escola de Ulm, de Max Bill), e Ivan Serpa, desenhista e pintor, professor da Escolinha de Arte para crianças no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Mantem contatos com o crítico Mário Pedrosa, que seria, nos anos 50 e 60, grande estimulador das vanguardas no Brasil e diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo por dois anos (até 1963, quando a coleção desse museu passa para a Universidade de São Paulo, que funda então o Museu de Arte Contemporânea da U.S.P.)

Em 1949 empreende pesquisas no campo da luz e movimento e apresenta na I Bienal de São Paulo seu primeiro aparelho cinecromático, obtendo menção especial do júri internacional, pelo pioneirismo de seu trabalho, na área da arte cinética.

Por ocasião da I Bienal de São Paulo Max Bill obtem o Grande Premio Internacional de Escultura. Entre os jovens artistas brasileiros que participaram da I Bienal estiveram Antonio Maluf (que realizou o cartaz da Bienal em estilo abstrato-geométrico), além de Waldemar Cordeiro, Ivan Serpa e Abraham Palatnik. Este apresentou seu "Cinecromático"(1950-51), experimentação absolutamente inovadora no campo da luz e movimento na arte através de uma sedutora tecnologia bastante rudimentar. O resultado das projeções cinecromáticas de Palatnik foi surpreendente em sua repercussão. Artista-inventor, sua obra se apresentou numa pequena cabine fechada, ante os olhos assombrados do publico que ignorava se considerava seu trabalho como pintura, escultura, ou o quê?

Na verdade, em sua primeira apresentação ante o júri de seleção da Bienal os membros da comissão não aceitaram o "Cinecromático" de Palatnik por não considera-lo "arte" e, ao mesmo tempo, por não se adequar às categorias convencionais de pintura, escultura, gravura ou desenho. Mário Pedrosa, contudo, e o artista Almir Mavignier conseguiram uma projeção especial da obra no recinto do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Por ocasião da abertura da Bienal, ficou vago um espaço designado para uma delegação estrangeira que não compareceu a tempo. Foi então sugerido que Palatnik exibisse seu trabalho nesse espaço.

De acordo com correspondencia enviada à época a Palatnik, o júri internacional da Bienal, desconhecendo qualquer referencia à ausencia do nome do artista no catálogo (ou da recusa de seu trabalho pelo comitê de seleção), recomendou que a obra fosse mencionada como uma importante contribuição à arte moderna e que, portanto, mereceria lugar na coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Na II Bienal (1953-54), Palatnik foi representado na Bienal na categoria de "pintura", com uma instalação de projeção abstrato-cromáticas, segundo depoimento à Autora (29 nov. 1992).

Reconhecido internacionalmente como um dos primeiros a aplicar a tecnologia à experiencia estética, Palatnik participou de 1953 a 1955 do Grupo Frente, no Rio de Janeiro, dedicando-se igualmente ao desenho industrial e desenvolvendo processos de controle visual e automático em industrias. Em 1963 obteve copyright para sua invenção de um novo jogo de percepção "Quadrado Perfeito".

Desde então Palatnik prosseguiu em suas especulações com o movimento, a cor, e a matéria, desenvolvendo trabalhos instigantes por sua originalidade e coerência ao longo dos anos. Um fino senso de humor igualmente faz parte de seus últimos trabalhos, todos êles sempre movidos por eletricidade e com um ciclo de movimentação preparado pelo artista. Poderiamos denominar sua contribuição de poética da luz, em sua fase pioneira nos anos 50, e mais recentemente de poética do movimento lúdico, sendo fascinantes o principio da exatidão e o perfeccionismo de execução de seus trabalhos.

Expôs no Studio F., em Ulm, Galerie Denise René, em Paris, Hoschschule St. Gallen, na Suiça Alemã, assim como participou de oito Bienais de São Paulo. Participa da exposição "Modernidade- Art Brésilien du XXème. Siècle" (em curadoria de Marie Odile Briot, Roberto Pontual, Aracy Amaral e Frederico Moraes), em dezembro 1987. No Exterior, participou de exposição individual na Pan American Union, em Washington (1965), assim como expôs no mesmo ano na Howard Wise Gallery, de Nova York. Participa da retrospectiva "Projeto Construtivo Brasileiro na Arte (MAM-RJ/ Pinacoteca do Estado de S.Paulo), em 1977, apresentada igualmente no MAM-SP. Expondo regularmente no Brasil, em 1986 apresentou uma Exposição individual, na galeria GB, Rio de Janeiro. Foi realizada grande retrospectiva de sua obra no Museu de Arte Contemporânea de Niteroi (RJ), no ano 1999/2000, com apresentação do crítico Frederico Moraes, tendo apresentado uma síntese de sua trajetória na Galeria Nara Roesler, em São Paulo, no ano 2000. Tem aparelhos cinecromáticos nas coleções do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, assim como no Museu de Arte Moderna de São Paulo, além de estar presente, no Brasil, em inúmeras coleções particulares.

Aracy Amaral


Bibliogr. Consultada:

  • Projeto Construtivo Brasileiro na Arte (Aracy Amaral, Org., Texte et Al), Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro/ Pinacoteca do Estado, São Paulo, Secret. Estadual de Cultura e Tecnologia, S.Paulo, 1977.

  • Latin American Artists of the Twentieth Century (Waldo Rasmussen, Ed., with Fatima Bercht and Elizabeth Ferrer) The Museum of Modern Art, New York, (Chapter "Abstract Constructivist Trends in Argentina, Brazil, Venezuela, and Colombia", by Aracy Amaral), 1993.

  • Modernidade – Art Brésilien du XXème. Siècle (Aracy Amaral, Org., textes et Al), Musée d´Art Moderne de la Ville de Paris, Ministère des Affaires Etrangères/AFAA , Paris, déc.1987.



© Aracy Amaral, mai 2002
   



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